Acordei no outro dia meio zonza, daquele jeito que a gente acorda depois de uma noite na bebedeira com os amigos. Sensação horrível. Boca seca, dor no corpo, olhos inchados, parecia mesmo uma ressaca. A cabeça parecia sido amassada por uma bigorna, caramba!
Droga, que dia era? E que horas?
Perdida, era essa a palavra que eu devia estar usando. Ia ser o primeiro dia, de muitos, de todos. Para sempre. Cambaleei até o banheiro, queria ver o estrago que estava o meu rosto após a noite mal dormida, após o choro sem cessar durante pelo menos quatro ou cinco horas.
Realmente, aquilo estava bem pior do que eu imaginara. Mas o que era um olho inchado perto de como eu estava por dentro. A dor insuportável começou no exato momento que a tela do meu celular me mostrou uma mensagem que eu não queria ler. Não queria aceitar, não podia, não ia fazer aquilo comigo mesma.
"Dorme agora, é só o vento lá fora..." já dizia Renato. Dorme agora, ordenei aos sentimentos dentro de mim. Aquieta coração, sossega, reconhece que não existe mais nada. Só faz a sua parte e me mantenha viva. Porque eu já nem sentia que estava mais viva, não queria estar. E tudo que eu lembrava era de chorar e chorar, só chorar. Não fiz mais nada de um dia para o outro. Não comi, não tirei o pijama, lavei o rosto e voltei para a cama. Só lembro mesmo era do choro que saía quase de lá do fundo do peito. E de suspirar cada vez que a respiração doía.
Durante alguns dias eu fiquei com a sensação de ressaca. A ressaca de amor que acabou, que nem virando a garrafa caia as gotinhas que sempre caem. Juro, eu tentei levantar, tentei me manter bem, vivendo um dia após o outro como se nada tivesse acontecido. Fingi que você tinha ido viajar e não voltava mais. Fingi que eu não te conhecia. Que eu estava bem.
Até que eu conseguia disfarçar, conseguia fazer com que me olhassem e não percebessem que o que me tomava por dentro era só um vazio que você deixara, era só um nada que você se tornara. Por onde eu andei todo esse tempo sem você as pessoas notavam que faltava um pedaço de mim, mas eu disfarçava dizendo que era cansaço. Era sempre cansaço, cansaço de esperar a volta de quem foi, de tentar juntar os pedaços de mim e varrer as lembranças para debaixo do tapete. Eu estava mesmo cansada, parece que tudo em mim havia se cansado de não saber mais o que fazer.
E ainda não passou, acho até que não vai passar a sensação. Acho que é quase um estado vegetativo de quem ama.
Lindo texto N, parabéns :)
ResponderExcluirObrigada sz
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