"Entra aí, fica a vontade, só não repara a bagunça". Essa era a frase inicial, a que deu um pontapé em tudo o que houve. Percebi que além de ficar bem a vontade, você deu um jeito nas coisas. Um jeito que era o seu.
Hoje eu sou como uma casa em reforma novamente, aquelas em que você ouve furadeira daqui, gente batendo dali, todo mundo fazendo alguma coisa para ver se conserta as ruínas. "Levanta essa parede um pouco mais alto, não deixa o coração assim tão desprotegido" dessa vez eu escutei.
Não era uma casa assim tão grande, nem tão espaçosa, muito menos confortável. Faltava um azulejo aqui, outro ali, tinha piso lascado de tanto pisarem de um lado para o outro. Mas você não havia se importado, fez a primeira reforma, se instalou muito bem, colocou as malas no quarto e foi ajeitar tudo conforme você gostava. Mudou a decoração, a cor, trocou as plantas de lugar. E depois, não sei, mas acho que você cansou e colocou aquela placa gigante de "Vende- se esta casa". Por bem pouco, pelo que você gastou, saiu perdendo.
O primeiro que passou você vendeu.
E ele não sabia como manter as coisas do jeito que você mantinha. Não sabia que uma vez por semana precisava arrastar tudo para limpar, que precisava forçar o trinco porque tinha um problema com um parafuso, não sabia que um dos quartos não podia abrir. Seu comprador reclamou que a casa não era tão boa assim, perguntou se você queria de volta, mas você se recusou. "Imagina, encontrei um apartamento na beira do mar, lá é melhor do que essa casa, deixa aí, quem sabe alguém se interesse..." mas eu juro que era isso que você tinha falado.
Fiquei lá, durante muito tempo, passou sol, chuva, ventania, gente jogando pedra, vizinho colocando entulho, você nunca mais nem passou em frente.
"Agora, quem vai limpar a sujeira e colocar as coisas no lugar?" Já que você deu as costas depois de fazer da minha vida a sua casa...
Lindo e profundo.
ResponderExcluirObrigada amiga <3
ResponderExcluir