terça-feira, 30 de julho de 2013

Culpa


  No começo eu achava que era só uma saudade passageira, assim como aquelas crises de choro que davam de repente e logo passavam. Sentia o aperto no peito mas não era constante, era só algo que gostava de me pertubar em meio as noites. Não era sempre que doía, era só quando eu permitia, quando eu fraquejava. Por vezes eu achei que realmente fosse só saudades, na verdade não era, nunca foi. Era mais uma necessidade de você.

  Todas as coisas me faziam lembrar, de exatamente tudo, as músicas, as fotos antigas, os programas na televisão. As conversas sempre passaram pela minha cabeça, as risadas, os conselhos e toda aquela lição de "viva sempre atrás da sua felicidade". Por momento algum esqueci o jeito como você tirava os óculos e sorria torto, ou como sua cara de bobo era engraçada. Para dizer bem a verdade, eu quis esquecer, o tempo todo quis que todas as lembranças fossem de uma vez, da mesma forma que você foi. Nunca foi de escolha própria pensar no passado, acontece que as vezes tudo é tão mais forte que eu, que quase não vejo saída a não ser remoer a história dentro de mim. 

  Se me deixam sozinha, por um instante que seja, de alguma coisa eu me recordo. Seja a coisa mais tola que houve. As brigas são as primeiras lembranças, as mais fortes e mais persistentes, porque eu sempre acho que tudo poderia ter sido resolvido com o silêncio. E por falar em sempre achar qualquer coisa, eu sempre acho que a culpa de tudo o que se passou foi minha, é tão difícil descarregar esse peso das costas, ou até mesmo mesmo dividir por dois, que seja. 

  Te defendo, por mais que eu não deva. Te protejo de qualquer acusação, de quem quer que te culpe. Me coloco na frente do erro, peço para que te absolvam, finjo que toda a discórdia foi eu quem causou. Quando me falam que estou errada, retruco que não. Porque me parece mais digno que eu seja sentenciada e julgada, do que você, que por tanto tempo quis me abrir os olhos.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Homens


  Talvez eu force um pouco puxando a sardinha para o lado masculino, ou talvez eu tenha completa razão. "Homens são todos iguais, homens não prestam, homem que é homem isso e aquilo." É o que eu tenho ouvido de tantas mulheres/meninas a respeito da melhor invenção de Deus: o homem! Sim, quem foi que disse que é a mulher? Porque eu, particularmente, prefiro os homens. 
  
  Vocês e seus clichês se esquecem de que são frutos de um relacionamento entre um homem e uma mulher, quando abrem a boca para falar que eles são todos iguais, generalizam. E não lembram dos pais, irmãos e melhores amigos. Claro, homem mente, enrola, engana, some no outro dia, desliga o celular, não responde. Mas qual é a mulher que é o exemplo tão correto para julgar? Cá entre nós, meninas, nós também fazemos tudo isso... "Ah, mas ele partiu meu coração" ele não foi o primeiro, não será o único, nem o último. Homens tem essa mania meio boba de machucar as garotas mesmo, mas passa, porque sempre haverá um outro para apagar o que o mané fez. 

  "Mulher não é o sexo frágil da história." Não sei vocês, mas eu prefiro acreditar que sim, prefiro fazer de conta que sou para que alguém seja forte por mim. Que mulher não prefere se fazer de frágil quando é tomada nos braços? Ou amolecer quando ele aparece sorrindo de orelha a orelha? Faça se de frágil sim, joga charme, disfarce a força que tem. Toda mulher fica mais bonita assim, e é quase uma certeza que ele vai te preferir dessa forma. "Mulher precisa ser independente." E quem disse que não? Mas não é uma delícia quando ele se oferece para pagar o cinema, a cerveja, ou o que quer que seja? "Homem só pensa em sexo." Se ele pensa em sexo com você, então você tem a sorte grande! Me fala uma mulher não gostaria de ser desejada? A não ser que sua estima seja tão baixa quanto a camada do pré sal!

  Sendo assim, venho através deste, a quem possa interessar, defender o lado masculino da sociedade. O lado que aguenta drama, demora, atrasos, brigas sem motivos, birra, o nosso famoso "amor, to gorda?", a insuportável TPM, tapas ardidos, que troca o futebol por cinema com você. Que se importa, que cuida, que mima, que quer bem. Aos que fazem sofrer também tem minha defesa, é tão natural do ser humano fazer isso, tanto homens quanto nós mulheres, quem é que não teve aquele (a) ex que te deu um trabalho danado? Aos que ficam apenas na zona de amizade, morrendo de amores e de vontade de dar um passo a mais. Aos pais, porque sei como é difícil ser filha, ainda mais a única menina. Aos irmãos, os mais velhos que sentem ciúmes e protejem, os mais novos que batem e preocupam. Aos namorados, porque hoje em dia é complicado ser homem, agradar uma mulher é tarefa para quem tem disposição. E aos ex, sem eles, nós talvez não tivéssemos aprendido uma lição e tocado para frente!

  E não venha com essa de garota iludida que homem de verdade prefere sorriso do que "peito e bunda". Homem gosta de mulher inteligente, com conteúdo, que sabe o que quer, não as que ficam fazendo joguinho. Nem venham, muito menos, com essa de que homem que é homem assume o que faz, que quer ver o cara falar que fez uma feliz e etc. Homem que é homem não vai atrás de garota boba igual tantas por aí, ele quer mesmo é uma mulher que possa ser namorada, irmã, amiga e até meio mãe. Por isso digo e repito, a melhor invenção de Deus, sem sombras de dúvida, foi o homem.



segunda-feira, 15 de julho de 2013

Se



  Se não fosse todos os se.
 
 Se não fosse uma foto, um dia, um assunto, uma coincidência. Se não fosse uma curiosidade, uma vontade, uma loucura, um acaso. Se não fosse uma festa, um amigo em comum, um oi, uma mesa. Se não fosse a falta de coragem, os boatos, uma mensagem, um desabafo. Se não fosse o fast food, o curso de inglês, a camisa rosa, um sorvete de chocolate. Se não fosse seu atrevimento, o frio na espinha, um beijo roubado. Se não fossem todos os "bom dia e boa noite", as conversas, os apelidos, as brincadeiras, as perguntas. Se não fossem todas as madrugadas, as demoras, as ansiedades. Se não fossem todos os finais de semana, os atrasos, as chegadas, as partidas, as esperas, a paciência.
 
  Se não fossem os mals entendidos, os erros, a ignorância, a discórdia, a insegurança, o medo, o desespero. Se não fosse toda a carência, a dependência, a posse, o querer. Se não fossem todos os "eu" e os "você". Se não fossem todos os "nós" e a distância agora. Se não fosse tudo isso, hoje seria tudo como antes.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sobre Nós



  "Você escreve só sobre tristeza?" "Não, eu escrevo sobre amores não correspondidos, saudade, dor, decepções, mágoa, lembranças. As vezes eu falo sobre tristeza também."

  Eu queria escrever sobre tardes de domingos que eu passaria ao seu lado, ou sobre nossas noites de sábado vendo a lua e ouvindo uma música que falasse do meu amor por você, também poderia escrever sobre como você me fazia bem, se importava e me cuidava. Outrora poderia estar escrevendo sobre como seria deitar do teu lado numa cama de solteiro, te fazendo rir da minha resistência ao teu toque, quem sabe até, sobre os sonhos e planos que eu tinha para nós dois. Poderia escrever sobre como sua mão se encaixava na minha, dos nossos pés entrelaçados e de como você ria gostoso num episódio de um desenho qualquer. Não bastasse isso, poderia eu escrever a respeito de como era ruim quando você ia embora e voltava só uma semana depois, ou como as lembranças que eu tinha da primeira vez que te vi e do nosso primeiro beijo me faziam rir sozinha. São tantas as coisas boas e maravilhosas que eu poderia falar, mas as que me vem a cabeça são as piores possíveis.

  Queria poder escrever sobre como seria bom sentir tamanha felicidade em estar com você, como seria delicioso dividir meus segredos, meus medos e minhas vontades, gargalhar das tuas piadas tão sem graça quanto a minha expressão quando era flagrada te fitando.

  Então eu resolvi escrever só a verdade. E ela me dói, por isso escrevo.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Contradição


 "- Você se contradiz muito."
 "- É, eu sei." É que as vezes nem eu mesma sei o que acontece, quis responder. Guardei para mim.

  Não sei mesmo, penso as vezes que sou forte o suficiente para deixar tudo de lado e seguir em frente, outras vezes que não consigo nem mesmo esquecer teu sorriso de uma noite num fim de sábado. Tantas vezes eu acredito que isso é só uma parte de mim que tem medo de te deixar partir de uma vez por todas e não ter mais boas lembranças, ou histórias para contar. Tantas outras eu acredito que essa sou apenas eu sendo idiota e deixando a vida passar, assim, sem conseguir acompanhar. Mas é que eu sempre me contradigo até em pensamentos.

  E eu bem queria ser firme na minha decisão de te deixar ir, te falar "Vai logo, nunca mais apareça aqui, nem nos meus sonhos.". A infelicidade é ter que admitir que as memórias, mesmo quando ruins, são boas, fazem com que eu te sinta próximo, quando na verdade você está longe demais. O problema é que enquanto você se distancia, eu vou correndo atrás, seguindo teus rastros que devagar vão se apagando, e quando me dou conta já me perdi de novo. E de novo...

  Me contradigo quando digo que por mim você que seja feliz com quem quer que seja, no fundo queria que fosse feliz comigo. Quando finjo que não te conheço, porém te conheço tão bem quanto cada parte do eu corpo. Mais ainda quando digo que já passou, só que parece que não vai passar nunca.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Sem Graça


   Rídicula a forma como eu amo você, como eu amo um cara tão idiota como você. Sinto uma pena enorme de quem você é hoje, na verdade, sinto dó do cara que eu conheci ter virado isso que você é hoje. Lendo conversas antigas, percebi como era engraçado um simples "oi", mas agora me pergunto quem é esse monstro, quem foi que te fez ficar assim, um palhaço sem platéia...

  Comigo você nunca precisou ser assim, teu sorriso espontâneo era o que eu mais admirava em ti, e também a forma como me fazia rir falando uma ou outra bobagem sem sentido. Era tão engraçado te ver rir, ver teu sorriso saindo no canto dos lábios e agora me pergunto por que você é tão sem graça. Por que você gargalha da dor que eu sinto por não te ter. E me pergunto por que eu acho graça em te ver rindo de mim. Deve ser pelo fato de saber que ainda lembra de alguma forma.

 Quando você me levava para casa rindo de alguma coisa boba pelo caminho, era como estar feliz apenas te ouvindo. Agora quando eu volto para casa sozinha, eu me perco em pensamentos, lembrando de quando você ria comigo, mas hoje parece uma música num volume baixo. E soa sem graça.

 Tão sem graça quanto morrer de amores.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Mudanças


 Se tem uma coisa que eu aprendi, é que nada dura para sempre. Nada, nem o que é bom, nem o que é ruim. Principalmente o que é ruim. Aprendi que todo mundo tem uma segunda chance, quem errou e quem a deu, para cada um ela significa algo diferente. Aprendi que as expectativas causam decepções, por isso não as crie, espere... Se surpreenda, é melhor do que se arrepender! E se você acredita, apenas continue fazendo isso, essa é a base para que todas as coisas sejam alcançadas.

 Hoje mesmo eu pensei que a falta que você faz é tão substituível quanto uma lâmpada queimada, ou um sapato gasto, que o que eu aprendi com você pode ser guardado e servir de lição, quem sabe na próxima vez eu não erre. Que sorrisos e lágrimas vem e vão o tempo todo, não foi a primeira nem a última vez que algo aconteceu. Tudo passa, lenta ou rapidamente, depende de como você enxerga a situação. Que cada segundo precisa ser vivido como o último, porque ninguém sabe nada sobre o amanhã.

 E agora, quando me dá vontade de olhar para trás, eu penso que lá na frente pode ser tão melhor, que os caminhos podem ser menos escuros, que as pessoas podem ser mais interessantes e que eu posso ser bem mais feliz, assim.

Christina Perri - A Thousand Years (Official Music Video)

domingo, 7 de julho de 2013

Queda


 "Tá tudo um inferno, volta por favor." Enviar esta mensagem?

  Não, claro que não, deixa pra lá, esquece... Onde é que eu estou mesmo com a cabeça, será que fiquei louca? Apesar de que de um tempo para cá, ando desconfiando mesmo da minha sanidade ou da falta dela. É só mais uma das coisas que eu perdi sem você. Antes eu era um pouco mais normal do que hoje. Antes de você chegar e ir embora. E também tinha um pouco de cada coisa a mais dentro de mim.

 Um dia eu fui mais feliz, mais sorridente, eu era alegre - com você-. Eu sabia rir só de caminhar na chuva, de sentir o vento batendo no rosto, de ver o céu estrelado ou a lua. Falava coisas que não eram tão naturais saindo de mim, que sempre fui um poço de grosseria. Sentia coisas que não me pertenciam, que não entravam no meu coração. Hoje eu digo que você foi um portal de acesso na minha vida, pelo qual que passei e cheguei até o pico da felicidade. Foi bem lá de cima que eu despenquei, caí a maior queda que eu conheço. Resolvi escalar, subir outra vez para onde eu estive, sem corda, sem uma mão para me ajudar, sem nada que me fizesse chegar mais rápido. Mas eu estou demorando muito, sem você.

 Se eu pudesse te pedir algo, seria para que me ajudasse, que não me soltasse mais, nunca mais.

sábado, 6 de julho de 2013

Fica



 Pensei em te ligar e te convidar para jantar, conversar sobre a quantas anda a vida depois de tudo o que passou. Quem sabe te pedir para ficar mais um pouco, esticar até a manhã do outro dia, eu poderia te esperar acordar com os olhos pequenos e os cabelos amassados, preparar um café e te servir na cama, rir de você ao ver sua cara de sono. Particularmente, acho que seria uma ótima ideia caso eu tivesse coragem.

 Então eu te esperaria levantar, ir cambaleando até o banheiro lavar o rosto e voltar para perto de mim. Te daria colo, deixaria minhas mãos escorrendo pelos teus cabelos tão macios (eu sei, não canso de repetir isso, que seus cabelos são macios) e falaria qualquer coisa que tirasse um sorriso seu, porque é uma das coisas mais bonitas que você tem. Nós poderíamos ficar deitados durante um dia todo, sem pensar em mais nada, nada além de como você se encaixava tão bem em mim, ou se você quisesse, te deixaria falar coisas sem sentido para que eu me sentisse bem.

 Imaginei nós dois assim, tão próximos, sem tempo que passasse, sem erro que nos separasse, sem nada que nos impedisse de ser feliz.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Vontade


 Hoje eu acordei com uma vontade louca de te ver, não sei da onde tirei isso. Acordei querendo te olhar bem no fundo dos olhos (se eu ainda me lembro bem deles, são castanhos claro, mas no sol ficam um pouco verdes), sentir teu hálito, afagar teus cabelos macios. Aquela vontade tão louca de te abraçar forte para que você fizesse o mesmo, te beijar de um jeito apaixonado e segurar tuas mãos entre as minhas.

 Acordei assim porque me disseram que temos que correr atrás da felicidade que nos pertence, mas eu não soube direito o que fazer, só sabia da vontade de te ver. Não podia simplesmente sair da minha casa, ir até a sua porta e reclamar da falta que você me faz. Nem te ligar e dizer que cada dia é mais insuportável que o outro. Ou, de repente, sair escrevendo nos muros da cidade que a saudade que eu sinto de você é maior que todos os sentimentos que eu tenho.

 Ainda não sei bem o que fazer, não sei como tentar te dizer as coisas que tenho guardadas desde que você foi, as vezes fica entalado na garganta, mas eu faço voltar para dentro de mim. Fico sem saber as palavras que usar, não tenho como argumentar com você o fato de que eu ainda te amo, mesmo depois de passar tanto tempo, mesmo depois de passar tanta gente. O que eu preciso te falar é que quando eu paro e penso nos meus dias com você, me dá vontade de viver de novo, aproveitar até os últimos segundos, sem errar. Que a vida não faz sentido nenhum quando seu sorriso não é para mim, que as coisas que eu aprendi com você são as que eu ainda guardo. Preciso te falar que do seu lado tudo era mais divertido, a vida tinha mais cor, os dias eram mais vívidos.

 Hoje eu acordei com uma vontade enorme de te dizer que se um dia você voltasse, eu estaria aqui te esperando, da mesma forma que te esperei uma vez.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Você De Novo

Me mandaram te esquecer. Falaram que você não se importa mais, que não liga para o que eu sinto. Pediram para que eu vivesse a minha vida fingindo que nós nunca nos conhecemos.

Falaram que é difícil mesmo. Que fácil é falar, fingir, sorrir amarelo, pensar um pouco menos. Mas que esquecer, assim como eu devia ter feito, é muito difícil. Eu sei, todos acham que eu não me esforço suficiente, que eu não luto comigo mesma e com tudo que se passa dentro de mim. Acham que eu não quero. As vezes eu não quero mesmo, as vezes eu prefiro sofrer e chorar do que te esquecer, esquecer quem você foi para mim.

Porque eu tenho em mim a esperança de que um dia você possa sentir, ao menos, dó de mim. Dó da minha idiotice em insistir sentir algo por você.

Clichê



"- Você vai postar mesmo essa foto?"
"- Vou - respondi com medo. Mas medo do quê? - Vou sim."

 Já teve texto clichê como legenda, como se esse não fosse. Já teve choro por causa dessa foto, teve mil coisas que eu não sei como descrever. Teve sensações, histórias não terminadas, teve nós dois. E hoje só tem a foto, tirada num dia quente de dezembro, rodeado de amigos (que eu achava que eram amigos), sorrisos por onde nós olhávamos. Não era para soltar, era para a minha mão estar assim com a sua, mas ela escapou... Sobrou uma foto que significa tudo o que eu sinto, tudo o que se passa resumido em uma foto.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ressaca

 Acordei no outro dia meio zonza, daquele jeito que a gente acorda depois de uma noite na bebedeira com os amigos. Sensação horrível. Boca seca, dor no corpo, olhos inchados, parecia mesmo uma ressaca. A cabeça parecia sido amassada por uma bigorna, caramba!

 Droga, que dia era? E que horas?

 Perdida, era essa a palavra que eu devia estar usando. Ia ser o primeiro dia, de muitos, de todos. Para sempre. Cambaleei até o banheiro, queria ver o estrago que estava o meu rosto após a noite mal dormida, após o choro sem cessar durante pelo menos quatro ou cinco horas.

 Realmente, aquilo estava bem pior do que eu imaginara. Mas o que era um olho inchado perto de como eu estava por dentro. A dor insuportável começou no exato momento que a tela do meu celular me mostrou uma mensagem que eu não queria ler. Não queria aceitar, não podia, não ia fazer aquilo comigo mesma.

 "Dorme agora, é só o vento lá fora..." já dizia Renato. Dorme agora, ordenei aos sentimentos dentro de mim. Aquieta coração, sossega, reconhece que não existe mais nada. Só faz a sua parte e me mantenha viva. Porque eu já nem sentia que estava mais viva, não queria estar. E tudo que eu lembrava era de chorar e chorar, só chorar. Não fiz mais nada de um dia para o outro. Não comi, não tirei o pijama, lavei o rosto e voltei para a cama. Só lembro mesmo era do choro que saía quase de lá do fundo do peito. E de suspirar cada vez que a respiração doía.

 Durante alguns dias eu fiquei com a sensação de ressaca. A ressaca de amor que acabou, que nem virando a garrafa caia as gotinhas que sempre caem. Juro, eu tentei levantar, tentei me manter bem, vivendo um dia após o outro como se nada tivesse acontecido. Fingi que você tinha ido viajar e não voltava mais. Fingi que eu não te conhecia. Que eu estava bem.

 Até que eu conseguia disfarçar, conseguia fazer com que me olhassem e não percebessem que o que me tomava por dentro era só um vazio que você deixara, era só um nada que você se tornara. Por onde eu andei todo esse tempo sem você as pessoas notavam que faltava um pedaço de mim, mas eu disfarçava dizendo que era cansaço. Era sempre cansaço, cansaço de esperar a volta de quem foi, de tentar juntar os pedaços de mim e varrer as lembranças para debaixo do tapete. Eu estava mesmo cansada, parece que tudo em mim havia se cansado de não saber mais o que fazer.

 E ainda não passou, acho até que não vai passar a sensação. Acho que é quase um estado vegetativo de quem ama.

Snow Patrol - You Could Be Happy [HD]

Era Uma Casa Muito Engraçada

 "Entra aí, fica a vontade, só não repara a bagunça". Essa era a frase inicial, a que deu um pontapé em tudo o que houve. Percebi que além de ficar bem a vontade, você deu um jeito nas coisas. Um jeito que era o seu.

 Hoje eu sou como uma casa em reforma novamente, aquelas em que você ouve furadeira daqui, gente batendo dali, todo mundo fazendo alguma coisa para ver se conserta as ruínas. "Levanta essa parede um pouco mais alto, não deixa o coração assim tão desprotegido" dessa vez eu escutei.

 Não era uma casa assim tão grande, nem tão espaçosa, muito menos confortável. Faltava um azulejo aqui, outro ali, tinha piso lascado de tanto pisarem de um lado para o outro. Mas você não havia se importado, fez a primeira reforma, se instalou muito bem, colocou as malas no quarto e foi ajeitar tudo conforme você gostava. Mudou a decoração, a cor, trocou as plantas de lugar. E depois, não sei, mas acho que você cansou e colocou aquela placa gigante de "Vende- se esta casa". Por bem pouco, pelo que você gastou, saiu perdendo.

 O primeiro que passou você vendeu.

 E ele não sabia como manter as coisas do jeito que você mantinha. Não sabia que uma vez por semana precisava arrastar tudo para limpar, que precisava forçar o trinco porque tinha um problema com um parafuso, não sabia que um dos quartos não podia abrir. Seu comprador reclamou que a casa não era tão boa assim, perguntou se você queria de volta, mas você se recusou. "Imagina, encontrei um apartamento na beira do mar, lá é melhor do que essa casa, deixa aí, quem sabe alguém se interesse..." mas eu juro que era isso que você tinha falado.

 Fiquei lá, durante muito tempo, passou sol, chuva, ventania, gente jogando pedra, vizinho colocando entulho, você nunca mais nem passou em frente.

"Agora, quem vai limpar a sujeira e colocar as coisas no lugar?" Já que você deu as costas depois de fazer da minha vida a sua casa...